Bem-estar | ||||||||||||||||||||
O “bem-estar” segundo Griffin (2002) engloba diversos valores substantivos diferentes e não redutíveis que seriam: realização pessoal, profundidade das relações interpessoais, satisfação, entendimento do próprio lugar e possibilidades, e componentes da dignidade humana como a capacidade de ter e perseguir um projeto pessoal. Desta forma, o bem-estar não pode ser reduzido a “satisfação ou alegria” nem ser “somado” como períodos de satisfação ou adicionado entre pessoas para compor um “bem-estar” coletivo (Griffin, 2002). O estado de saúde teria uma influência significativa na organização dos cuidados à saúde que se constitui, por seu turno, em um dos determinantes do estado de saúde, afetando o grau de bem-estar atingido pelas populações. Enquanto saúde é amplamente aceita como um dos componentes do bem-estar em geral das pessoas, autores discordam sobre a adequação de medir o impacto do estado de saúde sem considerar as diferentes condições de bem estar (Broome, 2002; Brock, 2002). Medidas do estado de saúde das pessoas podem ser obtidas com o uso de inúmeros instrumentos já desenvolvidos, validados, traduzidos para diversos idiomas e avaliados em muitas aplicações realizadas em diferentes países. A gama de instrumentos existentes permite selecionar entre os que objetivam a avaliação global do estado de saúde e aqueles que medem dimensões específicas como bem-estar psíquico, bem-estar social, etc.(McDowell I & Newell C.,1996). A realização de inquéritos populacionais de saúde constitui fonte importante de indicadores de estado de saúde não disponíveis em dados de registros e nos bancos nacionais (Viacava, 2002). Entre os instrumentos para avaliação global da qualidade de vida em saúde dispõem-se de vários como o WHOQol extenso, o WHOQol abreviado e o SF36 (Short Form 36), que, entre outros, já têm aplicações feitas no Brasil. Instrumentos que medem dimensões específicas como a saúde mental (SRQ 20, como exemplo) contribuiriam com indicadores relevantes para a subdimensão bem-estar da dimensão condição de saúde. Indicadores “positivos” de saúde como peso adequado, saudável (BMI), capacidade pulmonar adequada, flexibilidade e força muscular, índices de qualidade da dieta entre outros também compõem o elenco de indicadores possíveis de serem utilizados na dimensão “saúde” ou “bem-estar”, no componente “condição de saúde”. A auto avaliação da saúde, que tem sido usada como indicador de bem-estar, constitui uma auto classificação global do estado de saúde para a qual a pessoa considera além de possíveis doenças de que seja portadora, o impacto das patologias ou da ausência delas no seu bem estar geral: físico, mental e social. É considerado um excelente indicador da saúde pessoal. A literatura confirma a validade do indicador como preditor da mortalidade (Idler & Benyamini, 1997; Bellerose et al, 1994). É um indicador de simples obtenção durante a realização de inquéritos. No Brasil, dados da PNAD 98 permitiram estimar que 79,1% de toda a população brasileira alvo da pesquisa avaliaram seu próprio estado de saúde como bom ou muito bom. Os percentuais diferiram segundo o gênero (mulheres apresentaram índices menores de satisfação que os homens, a partir dos 14 anos) e segundo a categoria de renda familiar: de 72,5% (um salário mínimo) a 90,1% (20 salários mínimos). O índice de avaliação de bom ou muito bom decresceu com o aumento da idade: de 92,0% em menores de 14 anos para 39,4% em homens e 34,2% em mulheres com idade superior a 64 anos. Pesquisa de Quebec, de 92-93 aponta que 89% de toda a população com 15 anos ou mais considera a própria saúde como excelente, muito boa ou boa. Os índices de satisfação decrescem com o aumento da idade e são maiores no sexo masculino (diferença com significância estatística apenas no grupo de 15 a 24 anos) (Bellerose et al, 1994). Também tem sido utilizado o indicador “proporção de pessoas que consideram seu estado de saúde como muito bom ou bom em duas pesquisas consecutivas” o que indicaria persistência de auto avaliação positiva do estado de saúde. É considerado bom, pela simplicidade para monitorar estado de saúde de populações e de segmentos demográficos e sociais. É considerado um bom preditor da mortalidade, especialmente em idosos (Idler & Benyamini, 1997). Pesquisas realizadas em Quebec, apontam redução do percentual da população que avaliou a própria saúde como muito boa (de 40,9% para 34,4%) e aumento dos que a auto avaliaram como boa (de 29,1% para 37,2%), sem diferenças nas demais categorias, considerando a pesquisa de 1992-93 e comparando-a com a de 1987 (Bellerose et al, 1994). A comparação da auto-avaliação da saúde entre populações e subgrupos com diferentes padrões culturais implica considerações sobre o impacto dessas diferenças no perfil de respostas e na validade do indicador, o que vem sendo submetido à análise (Sadana, 2002). Outro desenvolvimento importante nos últimos anos tem sido observado na proposta e aplicação de indicadores compostos que combinam mortalidade e morbidade e trazem novas possibilidades de quantificação da perda e da incapacitação produzidos por diferentes agravos. Entre esses indicadores ganha notoriedade os “Anos de vida ajustados para incapacidades” (DALY) que foi aplicado em vários países, inclusive no Brasil (Murray & Lopez, 1996).
Quadro 8.6 - Revisão de literatura de indicadores de Bem-estar e sugestões de indicadores propostos pelo projeto.
Fontes:DH/NHS-HA 2001; AIHW 2002; CIHI 2002 No Canadá, os indicadores de “bem estar” referidos são: auto-avaliação de saúde; auto avaliação de saúde como muito boa ou excelente por dois ou mais inquéritos consecutivos e nível de auto estima, avaliado pelas respostas dadas a um conjunto de questões auto-aplicadas. Níveis de stress e de suporte social, que também poderiam ser indicadores de Bem-estar, estão incluídos em “determinantes de saúde”, no componente “fatores pessoais”. Na Austrália, os indicadores para Bem-estar são: dados globais de bem-estar físico, mental e social e outros indicadores como o DALE (expectativa de vida ajustada para incapacidades). Entretanto, a discriminação dos indicadores por dimensão aloca em “Condições de saúde”: o componente não fatal da carga da doença para os principais grupos de doenças (o que na verdade é incapacidade por morbidade) e para a sub-dimensão “esperança de vida e bem-estar” são referidos 3 indicadores: Taxa de mortalidade (SMR) segundo gênero e etnia, Esperança de vida ao nascer segundo gênero e Carga total de doenças e lesões em áreas prioritárias. Portanto, este país não utiliza, embora proponha, indicadores globais de bem-estar físico, mental e social. A Escócia, a Inglaterra e os EUA não incluem indicadores de “bem estar” entre os selecionados para avaliar os sistemas de saúde.Nos Estados Unidos, entre a relação dos “Leading Indicators for Healthy People 2010”, selecionados para avaliar os objetivos prioritários de saúde, observa-se a inclusão de alguns indicadores “positivos de saúde” como: flexibilidade e força muscular e atividade física (como componentes do indicador: Aptidão e atividade física); crescimento e peso, consumo de alimentos e nutrientes (componentes do indicador: Nutrição e sobrepeso); aleitamento materno (Saúde materno infantil e da criança) e melhoria do estado de saúde mental (item do indicador Saúde e doenças mentais). |