Continuidade | ||||||
Segundo Reid et al. (2002), na área de saúde, continuidade diz respeito à forma coerente e relacionada na qual o paciente experimenta o cuidado ao longo do tempo, e isso é resultado de um bom fluxo de informações, de boas relações interpessoais e de uma boa coordenação do cuidado. Para Starfield (2002), a continuidade do cuidado também tem subjacente a ideia da sucessão ininterrupta do processo da atenção à saúde. Desta forma, a continuidade remete à capacidade do sistema de saúde para organizar os serviços no que concerne aos registros clínicos e ao pessoal responsável pelos atendimentos e, também, à percepção dos usuários sobre a extensão da atenção. Com esta perspectiva, a autora introduz a noção de longitudinalidade, dada pela existência de uma fonte regular de atenção e seu uso ao longo do tempo. Da mesma forma, Rosa Filho (2005) afirma que a continuidade na atenção à saúde é uma relação pessoal de longa duração entre os profissionais, ou unidades de saúde, e os pacientes, independente da existência, ou não, de doença que desencadeia uma série de eventos coerentes e consistentes com as necessidades do indivíduo. A atenção às necessidades de saúde de um paciente ao longo do tempo é um indicador da qualidade dos serviços de saúde e o maior previsor do acesso ao sistema de saúde. O estabelecimento destes vínculos é, segundo o autor, um aspecto fundamental da integralidade na saúde. Um importante fator determinante da continuidade é o modelo assistencial no qual o indivíduo está inserido. Uma visão mais ampliada de continuidade é apresentada em Reid et al (2002) e em Haggerty et al (2003). Para estes autores, o conceito de continuidade apresenta dois elementos: o primeiro diz respeito à existência de um vínculo real entre o paciente e o médico (no caso da atenção primária), e entre o paciente e a equipe multidisciplinar de saúde (no caso da atenção à saúde mental). Isso pressupõe uma relação de confiança e fidelidade do paciente em relação ao seu médico, bem como um sentimento de responsabilidade do médico (ou da equipe multidisciplinar) frente à saúde do seu paciente. O segundo elemento desse conceito remete à continuidade definida como uma linha de cuidados que requer coordenação (como ocorre no gerenciamento de casos crônicos). Ainda de acordo com esses autores, a continuidade se dá sob três aspectos: a continuidade informacional; a continuidade gerencial; e a continuidade relacional. A continuidade informacional contempla a disponibilidade e o uso da informação sobre eventos de cuidados providos ao paciente antes da atenção que lhe é dada em um determinado momento. Isso diz respeito, portanto, à transferência de informação de um prestador a outro e, ainda, ao registro e ao uso da informação por sucessivos prestadores. A continuidade relacional remete a uma relação contínua entre os profissionais de saúde e os pacientes, o que possibilita estabelecer conexões entre eventos descontínuos. A adscrição de clientela é uma condição que favorece esse tipo de continuidade, através do vínculo estabelecido entre o indivíduo e um médico, ou outro prestador regular. Vale notar que, embora a adscrição seja claramente um componente da continuidade relacional, outros elementos caracterizam este tipo de continuidade, tais como a intensidade da relação paciente/prestador, dada pelo nível de comunicação, confiança, conforto; e o conhecimento global do médico sobre a história clínica do paciente, seu comportamento e suas atitudes em relação ao paciente. A continuidade gerencial decorre da conexão e da articulação entre os diferentes prestadores de serviços de saúde, principalmente aqueles que se envolvem no cuidado de pacientes crônicos. Assim, a continuidade gerencial está vinculada à gestão da doença de cada paciente, ao cuidado prestado na sequência correta, no tempo adequado e da forma clinicamente correta. Na Inglaterra, desde 1999, a continuidade do cuidado vem sendo discutida sistematicamente. A conclusão da revisão de literatura coordenada por Freeman & Shepperd (2001) foi que o conceito de continuidade do cuidado é multifacetado, e vai além dos limites das organizações que prestam serviços, do pessoal, da informação e entre diversos períodos. O NHS tem encomendado estudos dirigidos para grupos específicos de pacientes como diabéticos, doentes mentais, pacientes que apresentam sequelas por acidentes vasculares cerebrais, a fim de determinar os pontos que comprometem a continuidade do cuidado. Na Austrália, o AIHW e, no Canadá, o CIHI definem continuidade como sendo a habilidade dos sistemas de saúde para prover cuidado ininterrupto e coordenado através de programas, profissionais (médicos) e ao longo do tempo. A JCAHO (1993) define continuidade como sendo o grau com que o cuidado para com o paciente é exercido de forma coordenada entre os prestadores, as organizações, ao longo do tempo. No PROADESS, continuidade é a capacidade do sistema de saúde de prestar serviços de forma ininterrupta e coordenada em diferentes níveis de atenção. Referências:
- Reid RJ, Haggerty J, Mc.Kendry R (2002). Defusing the confusion: concepts and measures of continuity of healthcare. Final Report. March 2002. Disponível em: http://www.chspr.ubc.ca/node/213
Fonte: AIHW 2002. |